Cinco horas da tarde de uma terça – feira regular . Ligo o rádio e apanho o caderno de Artes para estudar ( gosto de estudar com o rádio ligado )pois estou em provas parciais ; leio um ponto , outro e paro porque não posso continuar , considerando que o meu pensamento está bem longe … E isto é muito mal ! …
Apanho lápis e algumas folhas de papel e resolvo desabafar sobre o delicioso castelo que eu venho construindo há dias :
Não tenho muita certeza , porém ,eu acho que , mais uma vez , estou sob uma forte influência ( por alguém ) mas isso já aconteceu diversas vezes , não sendo portanto um motivo de preocupação ou de agitação ; durará , no máximo 30 dias , como anteriormente.
Pergunto – me : ” durará mesmo ? ”
Vejamos como tudo isso começou : Eu o vi pela primeira vez no dia 03/07/1960 . Olhei – o só de relance , uma única vez e foi como se eu não tivesse visto ninguém ( perdoe – me , mas eu escrevo o que se deu ) . Todavia , com o correr dos dias , de tanto ouvir falarem de você , acho que , sem sentir , fui me habituando a você e comecei a achá – lo simpático ( e nem tinha gravado na mente a sua imagem ) …
Na segunda vez que nos vimos em 14/08/1960 trocamos algumas palavras de despedida pois estávamos de saída de uma festa , dada pela minha turma . Você riu quando eu o repreendi por ter errado o meu nome e acabamos rindo juntos .
Tenho a certeza de que foi nessa segunda festa que nasceu a simpatia ( que não sei como…) que sinto por você .
Eu sou irremediavelmente sonhadora e comecei a imaginar incluir você nos meus sonhos e castelos ; porém , logo o contato da fria realidade veio tirar – me do meu devaneio porque eu fiquei sabendo que você havia namorado uma colega e, assim , eu não poderia aspirar a namorá – lo , pois estaria cometendo uma ” traição ” (viu como sonho alto demais ? )
Na terceira festa , dia 10/09/1960 , eu fui disposta a não ajudar quase nada na cozinha e , sim ficar no salão de danças ; porém , na hora faltou – me coragem . Apenas no final da festa foi que consegui ficar cinco minutinhos perto de você que , novamente , brincou comigo por eu ter dito a uma colega que não iria à aula no dia seguinte por estar cansada , dizendo : “Vá sim , Virginia “.
Devo -lhe uma explicação para que não pense que acho você interessado em mim; não sou tão convencida a esse ponto . Havia tantas garotas graciosas que era natural não se interessar por mim . Creia , não me aborreci com isso ; mesmo porque estou acostumada a não ter direito de ser feliz .
Nossa história já dura 37 dias ; durará mais ou acabará sem eu sentir como começou ?
Quisera eu compreender o que se passa comigo porque sei que não é amor , somente uma grande simpatia nascida sem eu provocar . Sabe , às vezes , sinto uma vontade imensa de indagar tudo sobre você às nossas amigas comuns , entretanto , pela primeira vez calo – me e nada pergunto , porquanto não desejo profanar essa forte impressão que me causou ; prefiro tê – la sufocada dentro de mim e esperar pela próxima festa , em outubro , nem que seja só para nos cumprimentarmos , nada mais …
Noutro dia ( 17/09/1960 ) após ter recebido um telefonema de uma amiga , principiei a sonhar : “imaginei que você tinha telefonado para ela e perguntado por mim “, mas logo caí na realidade e vi que isso não aconteceria . Porém , quase sempre o que eu penso ou sonho , acontece e uma parte do meu devaneio se concretizou pois você telefonou para ela , mas não perguntou de mim ( eu não existo para você ) .
Vou parar de escrever porque são 18 h e 24 min e tenho que por a mesa para o jantar . O céu está coberto de por um azul – anil magnífico , mas Vênus , o planeta do Amor , ainda não despontou no horizonte ( está atrasado ) ; uma brisa suave entra pela janela da sal , esvoaçando os meus cabelos soltos e na Rádio Tamoio toca : ” Non Dimenticare ” ( Violinos Mágicos ) e ” Foi a noite ” ( Luís Arruda Pais .) e eu espero pela quarta festa para encontrá – lo .
Enfim , a quarta – festa chegou e passou ( 08/10/1960 ) , contudo você não apareceu porque ficara de serviço na Escola Militar .
Quando Magaly chegou perto de mim e disse : ” Telmo não vem , eu senti – me um pouco triste assim como ela também pois o Geraldo não viera . Sabe , eu pensava que ninguém sabia sobre nós dois , porém , Magaly contou – me que eu deixara transparecer alguma coisa sobre você; eu neguei mas ela teimava que sim , então eu disse a ela que você me agradava . Agora ela vive brincando com isso quando me vê .
Hoje , dia 12/10/1960 , eu soube que você é de Barbacena ( e fiquei um pouco surpresa ) pois eu pensava que era dos Afonsos . Também ando tristonha porque ano que vem você não estará mais nos Afonsos e sim , em São Paulo . Estou deprimida e peço desculpas para parar por aqui . Até a próxima festa , esperando por você !…
VIRGINIA LEITE
Histórias de amor… Espero que ele se despeça quando partir para São Paulo…
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Bom domingo , amiga ! Despediu sim .
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Como bom cavalheiro, deve ter prometido voltar!
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A distância pouco permitia que voltasse à miúde .
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Olá, Virgínia…
Te indiquei pra uma TAG…
http://reflexoeseangustias.com/2015/11/02/trick-or-treat-travessuras-ou-gostosuras-happy-halloween/
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Olá , Silvia !
Grata !
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Bom.. inquietação mesmo. A história foi bem contada.. quase perdi o fõlego seguindo os seus dias de esperança. Muito bom. Abrs
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Grata ! Abraços fraternos !
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